Há duas semanas, fiz uma proposta: a de escrevermos juntos sobre nossas esperanças. Pretensões à parte, já fico feliz que estejas aqui, pois esse Diário da Esperança será testemunha de nossas vontades e também de nossas ações. E, antes de continuarmos, preciso tecer uma constatação: a esperança é uma senhora muito exigente.
Eu sei que as conversas que ela tem conosco podem ser muito diferentes, mas aposto que ela repete muitas coisas que nos aproximam: a vontade de ser alguém melhor - para si mesmo e para o mundo, estar com as contas em dia, aproveitar os momentos de lazer com tranquilidade e desejar que outras pessoas também possam viver esses pequenos grandes prazeres. Ela já te falou isso?
Confesso que fiquei reticente ao reler minha proposta, já que falar de esperança é sim algo ingênuo, especialmente quando somos incentivados a não acreditar nela. Ora, se não tentarmos, como saberemos? E, assim, novamente, entendo que não estamos tão distantes. E isso é bom, pois se pudermos escutá-la, poderemos materializar suas formas. Quer ler um exemplo prático?
No mês passado, compartilhei com um amigo a vontade de ajudar outras pessoas. E, à distância, criamos uma forma de tornar aquele desejo realidade. Por um momento, você pode estar se perguntando "o que afinal tem a esperança a ver com a união de pessoas em prol de uma campanha de arrecadação de alimentos?"¹.
Ora, nossa espera-andança era de que em uma tarde conseguíssemos falar das esperanças de várias outras pessoas que, em virtude de situações nem tão específicas, não podiam custear o básico para sua sobrevivência. E assim, por uma tarde, tornamos aquela esperança coletiva.
E cá entre nós, por que será que consideramos ingênuo o desejo de que outras pessoas possam ter uma vida digna, comida no prato, um teto sobre suas cabeças, afetos que confortem? Talvez, porque aproximemos ingenuidade de fragilidade? Mas ela também é a qualidade do quê e de quem é simples. E não é exatamente essa uma das características que damos às coisas que nos fazem bem? Por isso que retomo Fernanda Young² quando disse "O problema é que quero muitas coisas simples, então pareço exigente".
Tenho (quase) certeza de que a senhora Esperança diria que esse é seu objetivo: a de sermos respeitosos com nossos desejos - e com os dos outros também - ao ponto de já não mais esperarmos parados, mas construindo caminhos que nos façam concretizar um mundo, uma cidade ou uma tarde mais justa. Afinal, o que te faz continuar escutando a Esperança?
¹A campanha mencionada é a #Cestou - Não dê ouvidos para a fome, da Rádio Armazém. ²Do livro "Dores do Amor Romântico", publicado em 2005 pela Editora Rocco - o único livro de poesias da escritora.
Texto: Paula Hosana Silveira Biazus
Psicóloga e mestre em Educação Profissional e Tecnológica